domingo, 2 de novembro de 2008

A beleza da grande derrota

Em um tempo em que se valoriza cada vez mais a idéia de se vencer a qualquer custo, de pensar apenas no resultado final sem se importar em como irá chegar até ele, é muito legal ver uma derrota da qual é possível se orgulhar. Foi assim que Felipe Massa perdeu o título mundial de Fórmula 1 nesse domingo, em Interlagos, para o inglês Lewis Hamilton: de forma grandiosa, em um dos finais mais emocionantes da história da categoria. Não menos grandiosa que a derrota de Massa, é claro, foi a vitória de Hamilton, conquistada nos últimos metros. A verdade é que tanto a grande vitória quanto a grande derrota são, cada uma a seu modo, engrandecedoras. Mas a grande derrota contém algo especial, pois mesmo sem a conquista há o sentimento de dever cumprido. Quando se perde tudo tentando ganhar tudo, quando se vê a vitória escapando por entre os dedos há a frustração, é claro, mas há, acima de tudo, o orgulho. Pois frustração de verdade é perder de forma medíocre, pequena, sem sequer ver a vitória de perto. É tão mais compensador ir à lona completamente, tendo tentado de verdade, pisando fundo, pagando pra ver. Essa é a derrota de um verdadeiro vencedor.

Algumas derrotas são mais gloriosas, até, do que uma vitória burocrática. Ficando no mundo da Fórmula 1, é inegável dizer que o vice-campeonato de Ayrton Senna, em 1989, foi mais glorioso do que o título de Alain Prost, conquistado graças à uma punição imposta ao brasileiro, que venceu a última corrida. Eu diria que esse vice de Senna representou mais, até, do que qualquer um dos seus três títulos mundiais.

Indo para o futebol, é impossível não lembrar da derrota do Brasil na copa de 82, naqueles 3 a 2 para a Itália, numa partida eletrizante, marcada pelo jogo franco, com perigo de gol a todo momento. Uma derota inesquecível de um time que marcou época. Assim como, por exemplo, a derrota do Palmeiras para o Cruzeiro na final da Copa do Brasil de 96, por 2 a 1, nos minutos finais. O alviverde preferiu o risco da derrota à se conformar em decidir o título nos pênaltis, onde poderia se queixar da falta de sorte e, mesmo que vencesse, não seria uma conquista à altura da qualidade daquele time, que se notabilizava por buscar o gol os 90 minutos. Perdeu em um contra-ataque. Essas e muitas outras foram derrotas da ousadia. Mas o que elas representam, com certeza, valem muito mais do que uma simples estrela sobre o distintivo ou uma taça empoeirada em uma sala de troféus.

Sair de mãos vazias mas com o sentimento de dever cumprido. Existem muitos atletas colecionadores de títulos que jamais irão experimentar esse sentimento e, conseqüentemente, jamais irão saber o que é o esporte.

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